O que dizer a respeito do trio britânico Muse? Bem, os críticos preguiçosos e auto-indulgentes da imprensa roqueira brasileira costumam definir o grupo como uma cópia inferior do Radiohead da fase The Bends. Eu prefiro ignorar a preguiça desses sujeitos (afinal, é mais fácil rotular uma banda de qualquer coisa do que ouvir seu trabalho e constatar que as coisas não são bem assim) e dizer que eles se tornaram rapidamente minha banda em atividade favorita.
Enquanto o grupo de Thom Yorke partiu para experimentações eletrônicas e praticamente aposentou as guitarras, o Muse (que apenas em seu primeiro disco, Showbiz, de 1999, de fato lembrava um pouco Radiohead) nunca as deixou de lado, refinando o seu som com elementos de Rock Progressivo e de Heavy Metal, transformando sua sonoridade em algo único. Suas músicas são vigorosas e urgentes. E, embora haja o uso de eletrônica, são as guitarras que mandam na sua sonoridade. Outra coisa, embora seja um trio, alguém que não saiba desse fato e ouça um disco deles pela primeira vez pode pensar que o grupo é composto por uns cinco caras, graças ao som extremamente elaborado e à qualidade técnica do grupo formado por Matthew Bellamy (vocais, guitarra e teclados), Chris Wolstenholme (baixo) e Dominic Howard (bateria).
Seu quarto disco, Black Holes and Revelations, é aquele que finalmente pode fazer com que os críticos malas reconheçam que o Muse não apenas não é cópia de ninguém, como atualmente deixa sua injusta base de comparação, o Radiohead, no chinelo. Black Holes foi o melhor disco de 2006 e ponto.
A obra começa com Take a Bow, música que vai crescendo aos poucos até atingir a grandiosidade total no final. Perfeita como faixa de abertura, preparando o ouvinte para o ataque sonoro que está por vir no resto do disco. Além disso, a letra já dá os primeiros indícios da temática abordada pelo trio na maior parte do álbum. Embora não seja um disco conceitual como o anterior, Absolution, de 2003, que tratava do fim do mundo, neste álbum a banda se mostra claramente indignada com a atual situação de guerras e mentiras para justificá-las, perpetradas pelos EUA e apoiadas pela Inglaterra.
Em seguida vem a balada Starlight, com o tradicional selo de qualidade Muse, com uma bela levada de piano e teclados redondinhos, onde outra forte característica da banda se destaca, os vocais. Matthew Bellamy tem um timbre de voz semelhante ao de Thom Yorke, o que contribuiu muito para as comparações entre as duas bandas, mas a voz de Bellamy tem muito mais potência e suas interpretações são sempre dramáticas, beirando o operístico.
Supermassive Black Hole é o primeiro single e a faixa mais diferente do disco. É um Rock altamente dançante, com riff de guitarra pesado, baixo pulsante e cantado todo em falsete. Map of the Problematique é a música mais eletrônica do álbum, dominada por teclados e altamente contagiante.
A seguir, o tema da guerra volta na curta Soldier’s Poem e seus corais. Invincible é outra bela balada, com batida marcial de bateria e guitarra com slide. E uma mensagem positiva na letra, que diz: “E esta noite podemos verdadeiramente dizer / Juntos somos invencíveis”.
Assassin e Exo-Politics fazem a dobradinha nervosa do álbum. A primeira com seu riff de Metal e a segunda, de ritmo mais quebrado. Impossível ficar parado durante a execução dessas belezinhas.
City of Delusion combina uma linha de baixo que parece Mambo com um trompete meio mariachi. E toda essa mistureba ainda vem acompanhada por um arranjo de cordas. Hoodoo começa com uma guitarra de Flamenco para depois descambar em uma balada lenta com outro belo arranjo de cordas.
O álbum termina com a melhor faixa do disco, Knights of Cydonia, que é praticamente uma faixa de Metal, com riff poderoso, corinhos de ah ah ah e as patadas finais em cima dos líderes do mundo, como: “Eu vou te mostrar um deus que pega no sono em serviço / Como podemos vencer? / Quando tolos podem ser reis”. Impossível não pensar em George W. Bush no ato. Todos os elementos que transformam o Muse numa senhora banda se combinam perfeitamente aqui.
Pesado, cheio de camadas, grandioso e com letras que caem no campo do protesto sem serem chatas. Black Holes and Revelations mostra que o Muse continua evoluindo a cada novo trabalho e ainda tem muita bala para gastar em futuros discos. Um disco perfeito, para ouvir sem parar durante um bom tempo. Então compre-o aqui e divirta-se.